Resenha | Sob a pele de Maria (Milena Maria Testa)

Contos | Uma leitura profunda, poética, intensa! A autora desnuda a alma da personagem e promove um encontro de almas com o leitor.

Sinopse

“Sob a pele de Maria” é um livro de contos em que o eu-lírico se desnuda, em tom confessional, revelando sua intimidade. Ao contrário do que dizem, no íntimo também se pode encontrar o universal. Assim como aponta Roland Barthes: ‘toda ficção é autobiográfica e toda autobiografia é ficcional’. Milena Maria Testa sabe disso. Tem consciência da linha tênue que existe entre realidade e ficção e brinca com isso” (Vanessa Passos, escritora premiada, professora e PhD em escrita criativa.)
A obra prossegue da adolescência à maturidade dessa Maria, protagonista única e plural, amparada pelo amor aos estudos e pelas descobertas de si, ora na voz narrativa da menina, ora na da mulher, outras vezes por uma contadora externa, artifício metalinguístico preciso. “Fico fazendo o exercício de mudança de narradora, até conseguir voltar para aquele lugar. Coisas de escritora. E de quem esteve lá.” (Girassol) 
Fatos icônicos entrelaçam os textos, que podem ser lidos na ordem que se desejar. Livro de contos ou romance? Quem lê escolhe, como em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, ou “O Jogo de Amarelinha”, de Cortázar, pois a estrutura da obra e de cada conto se sustentam em si mesmas. A sequência cronológica do todo não impede o fluxo de consciência nos episódios, fazendo do tempo, real ou psicológico, o fio condutor.
As frases curtas marcam o ritmo da leitura, seca como o ambiente psicológico em que Maria cresceu. Ao revés disso, há muita poeticidade, mostrando a evolução da personagem através da sensibilidade. “Corri para esfregar a veste com sabão, passei nela a escova mais grossa, bati-a no cimentado áspero, quarei-a no varal ao meio-dia, depois a enxaguei com a água dos meus olhos até destacar o primeiro fragmento definitivamente vermelho, parecendo um M de Maria. Sequei-a no ferro quente e a vesti.” (Alívio)
Numa frase: “O melhor de tudo é como o livro faz jus ao título, eu realmente me senti ‘Sob a pele de Maria’” (Michele Fernandes).

Lançamento do livro em Maceió.

Minha opinião

Sob a pele de Maria é o segundo livro da autora que leio e mais uma vez a escrita de Milena tocou meu coração e alma.

Nesta autoficção baseada em memórias da autora, conhecemos Maria, de início uma criança e a acompanhamos até sua vida adulta no decorrer de 26 contos emocionantes.

A pele da boneca era resistente, não criava cascas de ferida que pudessem ser arrancadas, não guardava dor.

A leitura foi rápida de tão envolvida que fiquei com a história. Por ser uma autoficção me perguntei por diversas vezes o que foi real na vida da autora e o que é ficcional. Impossível não se emocionar e sofrer junto com Maria em uma história carregada com tantos abusos sofridos.

O conto “O ladrão” me destroçou e precisei fazer uma pausa de dois dias para voltar a mergulhar nas memórias da autora. Mergulhei fundo, perdi o fôlego algumas vezes e voltei à superfície para respirar, com os momentos mais alegres de nossa menina-mulher.

Sob a pele de Maria bagunçou meus sentimentos. Chorei, torci por Maria, senti o desejo de acalentá-la e protegê-la em diversos momentos. Meu coração sangrou junto com as feridas da protagonista.

Uma leitura profunda, poética, intensa! A autora desnuda a alma da personagem e promove um encontro de almas com o leitor. Super recomendo a leitura!

Confira a resenha em vídeo.
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