Resenha: Conversa de Jardim de Maria Valéria Rezende e Roberto Menezes

Ensaios. Um bate papo aparentemente despretensioso que carrega dicas preciosas para quem quer ser um escritor. 

Sinopse

Uma última coisa, Valéria, antes da gente arrancar de vez, deixa eu só situar quem está lendo essa conversa de jardim, “Olha aí um título excelente, Conversa de Jardim, nada formal. Estou fugindo de formalidades”, Conversa de Jardim, quem tiver lendo, preste bem atenção, não tente imaginar um jardim normal, imagine assim, eu e Valéria, sentados em cadeiras brancas de metal, uma mesa também de ferro entre a gente, distância pequena, nem um metro entre eu e Valéria, imagine que a gente tá bem no meio desse jardim incomum, não incomum como esses jardins estilizados, idealizados do zero, encomendados a algum arquiteto, “E encomendam jardim?”, Se não, encomendam até biografias, imagina jardins, “O meu jardim, cada plantinha foi se chegando e encontrando, do jeito dela, o seu lugar. Fala do mandacaru”, Claro, mandacarus quase florescidos, três ou quatro pés de jasmim, coqueiro, plameira, pitangueira, “Muito capim crescido”, E olha que legal, pés de rosa e pés de macaxeira se permitem compartilhar pequenos metros quadrados de maneira harmoniosa, “Nem sempre”, Esse jardim reflete bem a tua personalidade, Valéria, “Não faço muita coisa, só deixo ele ser como é, mas tem as amigas daqui que cuidam”, Pois, por isso minha comparação, né? E então, posso fechar o capítulo?, “Não me azucrine com essas besteiras, o piloto dessa conversa é você. Manda ver nessa nave”.

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Resenha

Sabe aquelas conversas aparentemente descontraídas mas que são cheias de dicas maravilhosas? Foi exatamente isso o que encontrei em Conversa de Jardim e soube aproveitar muito bem! Usando a expressão – costumo usar sempre por aqui – que o Roberto Menezes tão bem definiu no livro, não farei uma crítica à obra, mas falarei como uma “leitora comum”.

É a primeira vez que leio um livro de ensaios e esse foi justamente o motivo que me fez solicitar a obra. Queria conhecer o gênero e foi uma das melhores decisões que tomei, pois o livro mostrou-se uma enorme surpresa. Como escritora marquei diversas dicas dentro do bate papo dos autores e, como leitora, me senti junto à eles  naquele jardim, conversando e bebendo chá.

Não sei porque pensei em chá, eles não falam que estão bebendo isso, mas foi assim que me senti ao lado deles. 

“Estou convencida que todo mundo é um romance” – Valéria

Conversa de Jardim nasceu da ideia de transpor conversas que estavam sendo gravadas desde 2014. Os escritores se conheceram nas reuniões do Clube do Conto da Paraíba e se aproximaram pela escrita. Desde então a amizade foi crescendo e nessas conversas no jardim, vislumbrando as macaxeiras plantadas ao lado das roseiras, eles conversam sobre várias coisas, dentre elas, literatura, escritores iniciantes, suas experiências de vida e de escritores, processo criativo e seus livros. Mas não é uma biografia. É uma conversa descontraída e aconchegante que cativa o leitor.

A estrutura textual é bem diferente do que estou habituada a ler. Achei que as vozes intercaladas me deixariam confusa de alguma forma, mas a verdade é que a leitura fluiu muito bem e consegui distinguir quem estava falando, mesmo sem precisar das aspas pra separar a voz de Valéria da de Beto. Só sei que eu estava ali, sentada ao lado deles, ouvindo a conversa quase como uma voyeur, me deliciando com a experiência de vida de Valéria e quando me dei conta, um misto de emoções me invadiu. Queria muito ter a oportunidade de sentar com esses dois para conversar um dia.

Como pode, num simples bate papo, os autores levarem os leitores a sentirem tantas emoções diferentes? Não sei explicar, mas sei que eles conseguiram. Eu senti tristeza, alegria, pesar e um sentimento de urgência e calmaria. Louco, não é? Acredito que isso seja culpa do peso de duas gerações interagindo entre si.

“Já morri várias vezes. Já tive infarto. Já tive desastre de avião. Já quase me afoguei. Já tive espingarda doze apontada pro meu peito. Depois disso tudo e de um monte de outras coisas, a sua visão sobre a vida muda, a consciência de que ela pode se acabar a qualquer minuto… Só consigo ter por completo o agora” – Valéria

O carinho entre Beto e Valéria é visível no tom usado em seus diálogos. Não é um livro com um conteúdo profundo e enfadonho, muito pelo contrário. É uma leitura leve, bem humorada, mas repleta de preciosas dicas para quem deseja (ou já é) ser um escritor e também para a vida.

Essa leitura foi uma grata surpresa e uma ótima experiência. Agradeço aos dois por me fazerem refletir tanto sobre alguns pontos de minha vida e por me proporcionarem participar desta conversa.

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