Resenha: A Última Rosa do Verão de Letícia Copatti Dogenski

Fantasia. Com uma narrativa poética, a autora nos leva a tomar decisões difíceis junto aos personagens e a refletir sobre merecimentos.

Nos anos de glória da cidade de Saturnino, de acordo com o contento de sua gente e a alegria das cores de sua flora tropical, Vieira Bertrand e Benvindo Pena descreveram as propriedades de uma planta capaz de trazer de volta qualquer alma que ameaçasse sair do corpo rumo à eternidade. Ficavam assim conhecidas as Rosas do Verão, travando uma briga com a morte em favor daqueles temerosos de enfrenta-la. Com o passar dos anos, porém, as lavras da planta diminuem gradativamente, como se parte de um plano maior de milagres calculados. Num último verão, quando certeiro o desabrochar de uma única Rosa do Verão, duas crianças são rondadas pela morte, provocando o impasse que vai tirar o sono do povo de Saturnino: quem deve usar a planta em seu favor? Assim, eles se reúnem durante toda uma noite para discutir sobre os triunfos e fracassos de cada um dos antepassados das crianças, buscando algo que justifique a escolha.

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Resenha

Imagine morar em um lugar onde a morte pudesse ser experimentada uma vez e depois fosse possível voltar à vida. Pois é, em Saturnino isso é possível.

Os moradores da cidade de Saturnino se depararam com algo inusitado. Uma espécie de rosa, com as pétalas alaranjadas, surgiu nos jardins da cidade sem que ninguém houvesse plantado e se espalhou como uma praga. Os moradores não deram muito valor à rosa que apesar de muito bonita, exalava um odor de morte e por causa disso ninguém a queria.

Um belo dia, o prefeito da cidade faleceu. O homem era muito querido por todos e seu funeral mobilizou a cidade inteira. Cada pessoa trouxe flores para enfeitar o caixão e  a lápide, inclusive, trouxeram as tal rosas mal cheirosas. Alguém teve a brilhante ideia de enfeitar o caixão do defunto com as rosas, então as enfiaram ao redor da cabeça do morto, criando uma coroa laranja belíssima. Deixaram lá, o morto sozinho em seu velório, para passar a última noite no mundo dos vivos e no outro dia ser enterrado, e todos foram dormir.

Assim que o dia apresentou seus primeiros raios de sol, o morto voltou à vida para espanto da viúva e de toda a cidade. Assim descobriram que a rosa linda, porém fedorenta, tinha o poder de fazer os mortos ressuscitarem. A cidade de Saturnino nunca mais foi a mesma. Para evitar o uso exagerado das rosas, ficou combinado que todos os moradores da cidade tinham o direito de usá-las apenas uma vez na vida (ou na morte) se assim desejasse. O combinado durou por anos e a cada ano as rosas diminuíam sua quantidade, até que restou apenas uma rosa do verão (ela acabou ganhando esse nome).

O problema é que nesse último verão apenas uma rosa desabrochou e nesse mesmo verão, dois mortos apareceram no mesmo dia. Agora a cidade está em polvorosa, tendo que decidir qual defunto deve usar a última rosa.

A história criada por Letícia é simples, porém bastante interessante. No decorrer da narrativa a autora nos apresenta diversos personagens que nos contam as histórias da cidade e das famílias que perderam seu ente querido. A narrativa faz uma retrospectiva na vida dos casais e podemos conhecer como surgiram os enlaces de cada um deles, até os primeiros moradores da cidade.

O enredo é bem interessante, mas confesso que senti um pouco de dificuldade com a linguagem usada pela autora e na forma como estruturou o texto. No início senti um pouco de estranheza com a narrativa poética, de linguajar mais rebuscado e as idas e vindas entre presente e passado. Conforme segui com a leitura acabei acostumando com o estilo e entendi melhor o texto.

 Apesar de ser um livro de poucas folhas, a leitura precisa de um pouco mais de atenção, mas o texto é envolvente e nos prende do começo ao fim. É uma fantasia bem diferente do que estou acostumada a ler. Uma das coisas que mais gostei na leitura foi a forte influência latina na história. Claramente Saturnino é uma cidade latina e pude identificar vários elementos da cultura mexicana no texto, principalmente com a celebração do “Dia dos Mortos”.

Recomendo a leitura para quem gosta de fantasia e aprecia uma escrita mais rebuscada.

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