Poesia: A Mariposa (Mírian Monte)

Para que mariposas ou borboletas com almas de mariposas nunca deixem de bater asas!

A mariposa

Quem nunca viu, num poema, levantar voo uma borboleta sequer!?

Vinícius, Quintana, Lispector, vez ou outra, falavam, em seus versos, como a alada criatura é: transitando entre amores, em jardins de flores, abrandando as dores de um coração qualquer.  Suas cores, leveza, delicadeza, combinam com lindas paisagens, valsas e histórias de princesas.

Com sua presença, ninguém se incomoda e, se gente fosse, seria a namoradinha perfeita! Ah, como é encantadora essa linda borboleta!! Calma, contida, protegida num jardim de margaridas, batendo asinhas, sob a luz do sol. Porém, se ela não se atreveria, num ato de ousadia, um singelo poema recitar… decerto não estaria a circular, ao lado da contraparente mariposa – falam, as más línguas, que não serviria para esposa, mas, como amante, seria boa de desfrutar.

Os críticos a chamam de bruxa, os mais elegantes, de feiticeira, porque surge à noite, com seu voo, para perturbar. Sua beleza é agressiva e, buscando a luz, voa decidida, incansavelmente, sem parar. E com esse bater de asas, pulsante e errante, alguém, certamente, importunará.

Noctívaga, irrequieta e sedutora, sua natureza selvagem, pode até afastar. Mas quando em paz se sente, repousa, tranquilamente, sem suas asinhas fechar, abrindo-se aos encantos do prazer, livre e solta para amar. E nisso se difere das borboletas, que, às formalidades presas, não conseguem, quase nunca, relaxar.

No entanto, vive à margem da poesia, esquecida, noite e dia, esperando um convite para entrar. Por sorte, há quem reconheça, por sensibilidade, por gentileza, que a mariposa pode, sim, lindos versos inspirar.

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