Entrevista com o Autor: Gustavo Araujo

Oi fofoletes, estavam com saudades de nossas entrevistas com autores? O entrevistado de hoje é um autor que conheci recentemente e tive o prazer de ler o seu livro. Um autor muito talentoso e que escreve de uma maneira que envolve o leitor e quando percebemos, chegamos ao final da história com vontade de “quero mais”. Estou falando de Gustavo Araujo! Vamos conhecer um pouco mais desse autor mega talentoso?

Entrevista com o autor: Gustavo Araujo

Minha Contracapa – Nós queremos te conhecer um pouco melhor, então nos diga, quem é Gustavo Araujo?

Gustavo Araujo – Nasci em 1973, em Curitiba, primeiro de três irmãos. Piá de prédio, como se diz por lá, com tempo suficiente para fazer bagunça, brincar e pôr a imaginação para funcionar. Atualmente, devido à minha profissão, moro em Brasília, com minha família, de onde tento me desdobrar em várias frentes.

M. C. – Você é advogado e escritor. Como você faz para conciliar essas duas atividades? Sabemos que ambas exigem uma boa demanda de tempo.

G. A. – Tudo depende de planejamento. Tento estabelecer horários para tudo, dividindo meu tempo entre o trabalho, a família e o lazer.

M. C. – Deve ser um pouco complicado conseguir tempo para dedicar à família, à escrita e ao trabalho. Conta um pouco pra gente como é a sua rotina.

G. A. – O trabalho me consome durante o dia. Tenho tempo para a família do fim da tarde ao início da noite, além dos fins de semana (aí, na íntegra, rs) . É a partir das 22h, durante a semana, que eu consigo tempo para a escrita.

M. C. – Quando foi que você se descobriu apaixonado pela leitura?

G. A. – Desde pequeno tive contato com literatura, quadrinhos, coleção Vagalume… Quando mais novo, tinha tempo para viajar e acabava registrando tudo em diários, nascendo aí o gosto pela escrita. Com o tempo vieram os livros de aventura e mais tarde os romances, nascendo daí o desejo por escrever algo que fosse verdadeiramente meu.

dsc_0152M. C. – Em que momento de sua vida nasceu o Escritor Gustavo Araújo?

G. A. – Quando li “Eu não tenho medo”, do italiano Niccolò Ammaniti. Eu li esse livro em dois dias, de tão bom que era. Ao final fiquei imaginando como seria bom fazer os outros terem a mesma sensação que eu tive, só que com um livro meu, com algo que eu tivesse escrito.

M. C. – Recentemente li o seu livro Pretérito Imperfeito e fazendo uma pesquisa para a entrevista, descobri que tenho um outro livro com um conto seu, o livro “!” de Antologia de contos da editora Caligo (Inclusive, preciso ler com urgência). Fale um pouco sobre os livros que você tem publicado e dos seus contos também. 

G.A. – Depois do livro do Ammaniti, escrevi um pequeno romance chamado “O Artilheiro”, que foi finalista no concurso nacional do Sesc, em 2009. Isso bastou para que eu me entusiasmasse. Procurei as comunidades de escritores no antigo Orkut e acabei fazendo muitos amigos por lá. Logo veio a Antologia “!”, que reuniu boa parte dessa galera talentosa, com dois contos por autor. Publiquei com eles “O Livro de Elisa” e “A Menina na Floresta”. Foi uma experiência fantástica – a primeira vez que vi meu nome num livro “de verdade”.

Depois disso inscrevi contos nos concursos do Sesc-DF, conseguindo espaço nas antologias Machado de Assis (2011) e Monteiro Lobato (2013). Em 2015 veio o Pretérito Imperfeito, pela Caligo, que me trouxe novos contatos, novos amigos e que também me abriu novas oportunidades. Atualmente, pretendo relançar “O Artilheiro” em versão impressa.

M. C. –  Conta pra gente como funciona o seu processo criativo. Como é para o Gustavo desde o momento da criação da história até o momento em que ela chega ao papel?

G. A. – Ah, é um processo torturante. Normalmente a ideia surge com uma inspiração involuntária – uma notícia no jornal, um post no facebook, um filme que desperta uma sensação estranha. Com o esqueleto montado, eu começo a desenvolvê-lo, acrescentando as descrições, desdobrando a narrativa, conferindo profundidade aos personagens. Depois de tudo pronto, vem o trabalho de revisão, que é o mais extenuante. Revisar e revisar, reescrever, repensar, alterar diálogos, mudar o final, enfim, até chegar a algo próximo do aceitável.

M. C. – Pretérito Imperfeito é um livro maravilhoso. Um livro que realmente me surpreendeu. Qual foi sua inspiração para escrever a história de Toninho, Cecília e o pai de Toninho?

G. A. – Pretérito Imperfeito nasceu do conto chamado “A Menina na Floresta”, um de meus dois textos que estão na Antologia “!” da Caligo. Na época, eu assistia à TV com minha filha quando uma velha cantiga popular foi exibida, ascendendo aquela luzinha inspiradora. “Se essa rua fosse minha”. O fato é que “A Menina…” teve uma aceitação muito boa, o que me entusiasmou a desenvolver a história, ainda que com diversas modificações em relação ao enredo original, pois eu queria falar de segundas chances, de arrependimentos, de culpa.

M. C. – Fale um pouco sobre Pretérito Imperfeito. Do que se trata o livro (para quem não conhece)?

G. A. – Pois bem, a história se passa, na maior parte do tempo, na cidade fictícia de Porto Esperança, no interior do Paraná, ainda que haja “locações” em Passo Fundo e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, além do Rio de Janeiro.

A trama toda, na verdade, se divide em três.

A primeira trata de Toninho.  É um menino de treze anos com uma dificuldade enorme para ler em público, o que lhe traz problemas na escola, e que também vive uma relação complicada com o próprio pai. Por conta disso, prefere se isolar. Passa os dias estudando passarinhos usando um velho manual de aves que ganhou de presente da mãe, já falecida, e refugiando-se em uma clareira do bosque que circunda a cidade.

Paralelamente, conhecemos a menina Cecília, não por meio de um narrador onisciente, mas por intermédio de cartas, trechos de seu diário endereçados a alguém chamada Carol. Cecília é muito inteligente e questionadora. Adora ler e escrever. Porém, vê-se em uma situação difícil, impedida de sair de casa devido às atividades misteriosas em que seu pai está envolvido.

Um terceiro foco narrativo aborda a vida do pai de Toninho. Espalhada em capítulos alternados, a história de Pedro Vieira é narrada desde sua infância árdua num sítio no rio grande do sul até os anos que antecedem a velhice, já em porto esperança. Pedro é dono de um passado perturbador, tendo trabalhado como agente da polícia secreta de Filinto Müller nos anos 30, uma fase da vida que ele gostaria de esquecer.

Naturalmente essas três realidades – de Toninho, de Cecília e de Pedro Vieira – se entrelaçam no tempo e no espaço, trazendo à tona questões pessoais, arrependimentos, erros, sacrifícios e redenção.

Gosto, entretanto, de dizer que o livro trata de amor. Amor que é descoberto pela primeira vez, amor entre pais e filhos, amor por literatura, amor pela escrita, amor por quem já se foi. Pode parecer piegas, mas creio que o tema, longe de ter se esgotado, ainda permite abordagens fora do contexto usual.

M. C. – Creio que todo escritor busca inspiração em autores que admiram. Quais são os autores e gêneros literários que você mais gosta e busca inspiração para escrever seus livros?

G. A. – Iniciei com Ammaniti, como disse há pouco. Mas também gosto muito de escritores que abordam questões filosóficas e psicológicas atreladas a casos cotidianos, como é o caso de Érico Veríssimo, Machado de Assis, Eric Maria Remarque e, buscando autores mais modernos, Khaled Hosseini e Ian McEwan. Gosto também do estilo descritivo de Carlos Ruiz Zafón, das abordagens filosófico-aventureiras do Reinhold Messner, dos relatos de viagem do Paul Theroux, das biografias escritas pelo Ruy Castro, pelo Scott Berg e pelo Fernando Morais. Sem falar de Anne Frank, que tem um lugar cativo no topo de qualquer lista que eu possa imaginar.

M. C. – Seus personagens são inspirados em pessoas reais? Eles possuem características de pessoas do seu círculo de amigos?

G. A. – Em maior ou menor medida, todos os personagens têm um pouco de nós mesmos. Somos todos e não somos nenhum, já que há de fato uma soma das características de quem conhecemos, sejam parentes, sejam amigos. É impossível fugir disso.

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M. C. – Além de pai, marido, advogado e escritor você também mantem o site Entre Contos, que é um site que promove desafios literários entre autores. Fale mais sobre o site.

G. A. – Logo depois que escrevi “O Artilheiro” percebi que mais difícil do que produzir uma obra é divulga-la. Num universo como vivemos hoje, com diversos tipos de mídia, é difícil para um escritor desconhecido convencer os outros a largar filmes, séries, games, redes sociais, para ler um romance do qual nunca ouviu falar. Nesse cenário, eu precisava me fazer ouvir, mostrar que tipo de literatura eu escrevia. Aproveitei o ocaso do Orkut e conversando com alguns amigos, ressuscitamos a filosofia de uma das antigas comunidades que lá existiam, a Contos Fantásticos, que era famosa pelos desafios literários. Isso foi ótimo porque os desafios conferiram maior visibilidade ao que eu escrevia – assim como permitiram que diversos outros autores aparecessem e mostrassem seus trabalhos.

Ou seja, o EC se tornou uma vitrine para escritores que sem o site, permaneceriam publicando seus trabalhos em blogues individuais sem que ninguém lesse. No EC todo mundo lê o que todo mundo escreve. Mais do que isso, todo mundo dá sua impressão sobre o trabalho do outro. Em termos de retorno para o escritor, não há nada melhor. Todo mundo quer ser lido e lá há certeza quanto a isso.

Todo mês de janeiro, a gente reúne os contos que se destacaram nos desafios do ano anterior e lança uma antologia impressa. É muito legal porque você vê o resultado concreto do talento e do esforço de gente que escreve muito bem. No início de 2017 vamos publicar o quarto volume! É inestimável ver a reação do pessoal que consegue um espaço numa coletânea tão concorrida. Um “livro com cheiro de livro”, trazendo um conto seu, um conto de que todo mundo gostou e elogiou. Não tem preço!

M. C. – O Entre Contos te ajudou de alguma forma na construção de Pretérito Imperfeito?

G. A. – Muito. No EC há essa troca de experiências. Como nos desafios os textos são publicados de modo anônimo, todo mundo se anima a comentar sem qualquer pudor, elogiando quando se deve elogiar, mas também criticando sem dó nem piedade quando isso é necessário. E são justamente as críticas que fazem um autor crescer, melhorar, descer do pedestal quando se considera uma sumidade. Comigo não foi diferente: graças aos apontamentos dos colegas quanto ao meu estilo, quanto à minha maneira de escrever, foi que eu pude trabalhar melhor a narrativa que resultou no Pretérito Imperfeito.

M. C. – Você teve alguma dificuldade no processo de publicação de seu livro?

G. A. – Quanto à publicação, não, porque a Caligo trabalhou com muito afinco nesse aspecto. Minha editora, a Bia Machado, é uma mulher incansável, batalhadora, e fez tudo, simplesmente tudo para que o livro saísse perfeito. Desde o momento em que me fez o convite – ela também frequentava a Contos Fantásticos e o Entre Contos – até o momento do lançamento e após, ela sempre esteve lá, apoiando, conferindo tudo nos mínimos detalhes. Publicar com a Caligo foi muito bom.

M. C. – Gustavo, muito obrigada pela entrevista. Virei sua fã depois de ler seu livro. Sua escrita é maravilhosa! Deixe um recado para os leitores do Minha Contracapa e para seus fãs.

G. A. – Eu é que agradeço a oportunidade de falar um pouco do meu trabalho para o pessoal. Sempre busco fazer com que o leitor se identifique com as histórias que escrevo, ou ao menos com parte dela. Não só em relação ao Pretérito Imperfeito, mas em qualquer texto que publico. Não há nada mais gratificante para quem escreve do que saber que seu texto tocou alguém. O recado que deixo, então, é de agradecimento. Obrigado por me dar a chance de emocionar. Um abraço a todos.

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