Entrevista com o autor: Eduardo Kasse

Faz um tempo que não temos entrevistas com autores por aqui. Recentemente li o livro O Andarilho das Sombras, do autor Eduardo Kasse  e ele gentilmente nos concedeu uma entrevista. Eduardo é autor nacional e seus livros são lançados pela editora Draco. Ele é um fofo e nessa entrevista vocês podem conhecer mais do autor e de suas obras.

Entrevista com o autor: Eduardo Kasse

perfil-kasseMinha Contracapa – Quem é Eduardo Kasse?

Eduardo Kasse – É uma pessoa que acredita que podemos evoluir sempre, errando, acertando, testando, observando e, acima de tudo, aprendendo e ensinando.

M. C. – Você não é escritor em tempo integral, apesar que poderia dizer que sim com a carreira que você segue, mas, como você concilia seu trabalho de criação de conteúdos com a escrita de seus livros?

E. K. – Para conseguir atuar bem nas minhas duas carreiras sempre me direciono para a tríade: vontade – disciplina – felicidade.

A vontade me faz buscar sempre o meu melhor, a não me contentar com o “mais do mesmo” que o cotidiano nos empurra. A disciplina me ajuda a direcionar o meu tempo e os meus esforços de forma produtiva e criativa. E a felicidade é a cola, sem ela não haveria alma nos trabalhos, tudo seria cinza, opaco, rotineiro. Acredito muito que, só gostando do que se faz, tendo tesão, é possível criar projetos de valor.

M. C. – Sei que você é um leitor voraz desde criança, mas tem algum momento de sua vida que você parou e disse: “Quero escrever um livro também!”?

E. K. – Nunca tive uma epifania! Contudo, sempre gostei de me comunicar, e escrever era uma ação natural para mim, assim sendo, desafiei-me a entrar no mundo das palavras. Acho que fui bem-sucedido 🙂

Eduardo Kasse com sua esposa Estela
Eduardo Kasse com sua esposa Estela

M. C. – Conte pra gente como foi o processo de escrita e a sensação de ter seu primeiro livro publicado, o Enquanto o Sol se Põe. Ele é um livro de poemas, certo?

E. K. – Faz tempo! Eu estava na faculdade, cursando Análise e Projeto de Sistemas quando ele foi publicado. Mas voltemos um pouquinho na história. Durante o cursinho, no longínquo ano de 2000, eu gostava de escrever poemas nas pausas dos estudos. Isso me ajudava a libertar a minha mente.

Um dia, a Estela – que hoje é a minha esposa – leu um dos poemas e gostou bastante e, claro, como eu já estava a fim dela, comecei a escrever compulsivamente. Inclusive a 2ª parte do livro se chama 22 de setembro, o dia em que começamos a namorar.

Entretanto, eram apenas folhas soltas de fichário.

Não sei bem quando ou o porquê, mas resolvi juntá-las e transformá-las num livro, que registrei na Biblioteca Nacional. Após isso, entrei em contato com diversas editoras, que sempre negavam, até que, depois de um ano de busca, fui aceito e publicado. Boas memórias retornaram agora!

M. C. – Me fale um pouco como funciona seu processo criativo. Como você cria suas histórias?

E. K. – Eu gosto de escrever de forma linear, seguindo os rumos de cada capítulo do começo ao fim. Geralmente já sei como o livro termina, antes mesmo de começar. O recheio os deuses vão me inspirando aos poucos, rs.

Para escrever divido o meu dia em módulos e sempre me obrigo a trabalhar todos os dias, nem que seja apenas num parágrafo. Essa rotina funciona e ajuda a criar o hábito.

Quando tenho uma ideia ou insight e estou longe do computador, costumo anotar a base. Com ela vou me lembrar do contexto e consigo desenvolvê-la quando o tempo aparece.

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M. C. – Vamos falar sobre a série Tempos de Sangue. Como surgiu a ideia de escrever os livros?

E. K. – Sempre fui um leitor absurdamente voraz por tudo aquilo que se referia ao mundo medieval, das guerras e dos fatos históricos. E como isso me encanta, como são esses temas que me motivam, foi um caminho claro para mim: usar o nosso mundo e impregnar nele a minha fantasia. Assim nasceram os imortais da Tempos de Sangue.

Com isso, respirei fundo e iniciei um projeto que já dura mais de cinco anos.

M. C. – Essa série é uma fantasia histórica e isso requer um tempo grande de estudo. Nos fale um pouco sobre esse processo.

E. K. – Eu trabalho de duas maneiras: estudos gerais e estudos específicos. Nos primeiros, eu faço uma imersão completa no período, locais e principais eventos que serão relatados no livro. Busco fontes, tanto literárias quanto acadêmicas e diversos pontos de vista – quando é possível.

No segundo, faço estudos pontuais para cada detalhe: uma comida, um trajeto, um nobre que vai entrar na trama e viveu realmente, algum costume ou crendice…. Assim, consigo ter experiências completas, criando para o leitor uma história envolvente, tanto na narrativa, quanto na ambientação.

E não me perco com excessos de anotações que podem deixar a história pesada ou mesmo maçante.

M. C. – Li Andarilho das Sombras e achei que a personificação do vampiro ficou perfeita no Harold. Ele seria o seu personagem preferido? Como foi a criação dele?

E. K. – Obrigado! Um dos maiores desafios que sempre me instigo ao escrever é criar personalidades individuais e únicas para cada um dos “seres” que aparecem nos livros – até mesmo para os cães, gatos e cavalos! Gosto de assistir filmes, peças teatrais e ler muitos textos que trazem essas interpretações únicas.

Também, claro, observo as pessoas: os amigos, parentes, estranhos, todos. Acho que essa soma é um caminho rico para a criação de identidades.

Cada um tem sua voz, suas verdades, preconceitos, segredos, medos e virtudes. E os personagens também precisam dessa estrutura psicológica.

E assim nasceu o Harold, que começa como um menino inseguro, perdido no mundo, até se tornar um imortal. Não direi que ele é o meu preferido, mas é um filho que trato com muito carinho.

M. C. – Uma curiosidade: por que Harold e o irmão são tão fissurados em coisas nojentas….? rsss Sei que pra época, a sujeira era algo bem crível para as pessoas. Estou sendo injusta com Harold, ele gosta de tomar banho…

E. K. – Ahahaha Moleques são moleques! Ontem, hoje e no futuro! Muitas das tranqueiragens que eu fazia na minha infância e adolescência, o meu afilhado Gabriel repete nos dias de hoje com os amigos. E pode ser que os meus filhos e netos venham a fazer as mesmas merdas… rsrsrs. Então, na fase humana do Harold junto com o Edred, eu explorei bem esse lado brincalhão, arteiro e até mesmo porquinho. Se bem, que ele, ao contrário da maioria das pessoas da época, gostava de tomar banho, como você mesmo disse.

M. C. – O que você espera dos leitores de Tempos de Sangue?

E. K. – Que tenham uma boa jornada junto com as pessoas e imortais da série. Que percebam que fiz essas histórias com esmero e carinho, pois respeito os leitores, sei que eles são exigentes e merecem ter algo de valor nas mãos.

M. C. – Você se inspirou em algum escritor para escrever seus livros?

E. K. – Não há como não se inspirar! Tudo aquilo que lemos e vivenciamos fica gravado na nossa mente, no nosso espírito. E assim foi comigo. Creio que as duas maiores inspirações para a TdS foram Anne Rice e Bernard Cornwell, mestres que admiro muito.

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M. C. – Atualmente a série Tempos de Sangue conta com 4 livros. O que nós, leitores, podemos esperar da série? Quantos livros mais você pretende escrever nesse universo?

E. K. – Estou escrevendo o desfecho dessa fase, o 5º livro. Ainda não posso dizer o título, mas em breve divulgarei para todos. Depois disso escreverei mais alguns contos sobre os Antigos Imortais para fechar o ciclo.

M. C. – Fale um pouco sobre os 4 livros.

E. K. – Cada livro tem sua peculiaridade. O Andarilho das Sombras e o Deuses Esquecidos são as portas de entrada para o universo da TdS. Tanto faz a ordem de leitura, ambos têm histórias fechadas e trazem personagens distintos. No primeiro conto a saga de um filho de um nobre inglês pagão, que, por uma escolha desesperada, se torna um imortal. No segundo, conto a história de Alessio, um camponês analfabeto e cristão que trabalha no vinhedo de um mosteiro na Itália e, por estar no lugar errado no momento errado, se torna um imortal. Enquanto o Harold gosta da sua nova vida e a vê como uma bênção, o Alessio não aceita o seu destino, pois tem o dilema: será que Deus ainda vai me amar depois do que eu me tornei?

Guerras Eternas e O Despertar da Fúria, trazem a continuação da jornada de Harold, Alessio e outros personagens que aparecem nos dois primeiros livros. Há muitos dilemas morais, luta pela liberdade e, claro, sangue!

M. C. – Pretende escrever livros de outros gêneros ou sua paixão são as fantasias históricas?

E. K. – Num futuro próximo já tenho ideias para mais duas fantasias históricas. Lá na frente, só o destino dirá…

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M. C. – Você pretende algum dia ser escritor em tempo integral?

E. K. – Quando lancei o Andarilho, eu me via como um escritor profissional (pela dedicação, busca pela qualidade e afins), contudo, não atuava muito nesse mercado.

Agora sou escritor em tempo integral, para os clientes e para a minha carreira na literatura.

Hoje a literatura ocupa 50% do meu dia. E as coisas estão evoluindo muito bem. Creio que daqui a uns anos a integralidade seja “inevitável” rsrs.

M. C. – Eduardo, obrigada por seu tempo e pela entrevista. Deixe um recado para seus fãs e leitores do Minha Contracapa

E. K. – Eu é que agradeço, foi um grande prazer. A todos desejo uma boa jornada pela leitura, dos meus livros e de outros autores, consagrados ou que despontam no mercado. Permita-se conhecer os novos, não somente os best sellers 😉

Vamos esquecer a falácia que o brasileiro não lê. A cada dia, vemos mais pessoas nos eventos, nas redes sociais, nas palestras. Elas consomem, debatem, opinam e também criam suas próprias histórias. Isso mostra que o mercado está caminhando bem.

Ainda há muito o que conquistar, mas é possível quando unimos mentes e forças. Eu acredito, e você? Vamos juntos nessa?

Até breve!

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