Entrevista com o autor: Danilo Barbosa

Falar sobre autores nacionais sempre é uma alegria pra mim. E falar sobre autores de talento que publicaram livros maravilhosos é mais alegria ainda! Danilo Barbosa é um autor nacional que teve seu primeiro livro recentemente lançado pela Universo dos Livros. Você pode não saber de quem estou falando, mas com certeza já ouviu falar no livro Arma de Vingança. Livro que ficou por 3 vezes como um dos  mais vendidos da Amazon (e-book) e que já se tornou um dos meus favoritos do gênero.

Danilo além de muito talentoso é um fofo e topou bater um papo comigo. Quer conhecer um pouco mais desse autor? Acompanha então nosso bate-papo logo abaixo.

Entrevista com o Autor

Minha Contracapa – Me fale um pouco sobre você. Quem é Danilo Barbosa?

Danilo Barbosa – Alguém que tenta sempre estar de bem com a vida, o homem que permitiu que os mundos e personagens que povoam a sua cabeça fosse para o papel, adora ficar em casa com seus gatos e livros, ama o cheiro de livro novo (e de velho também), ariano torto, dramático ao extremo e sempre disposto a ajudar as pessoas (mas não me deixe pegar bronca!). Ah, outra coisa: impulsivo… Sempre digo que o caminho do meu cérebro para a minha boca é curto demais, hahaha.

M. C. – Como é o seu dia-a-dia?

D. B. – Acordar cedo, trabalhar o dia todo e escrever à noite, após o jantar. Tento manter isso como regra. Quando preciso dos meus momentos de descanso, leio. Já tive obras de outros escritores que me ajudaram imensamente na hora de bloqueio ou quando não sabia como resolver determinada situação de um personagem. Sou também um seriador nato, adoro assistir séries como Penny Dreadful, Game of Thrones e How to get away with murder. Amo as reviravoltas e ganchos que eles conseguem colocar em seus episódios.

M. C. – Sei que você não é escritor em tempo integral. Me fale um pouco sobre essa sua rotina de conciliar trabalho com a escrita.

D. B. – Essa rotina é bem complicada, mas prazerosa, já que eu também trabalho com livros também, atuando no marketing de uma editora. Mas sempre preciso de um tempinho para desligar o profissional do escritor, e há períodos em que as duas se misturam, principalmente em eventos como Bienais. No Rio, ano passado, passei por essa correria, trabalhando em um estande e autografando em outro nas horas vagas. Mas por paixão a literatura, tento tirar isso de letra, literalmente. O bom é que essa imersão no universo me permitiu conhecer as várias faces do processo editorial.

M. C. – Tornar-se escritor em tempo integral é um objetivo?

D. B. – Sem dúvida. Como gostaria de sentar-me na mesa, apurar os ouvidos da imaginação e atender os meus personagens que ainda estão esperando para contar as suas histórias. Mas isso não é impossível… é uma meta que pretendo realizar em breve, com certeza.

M. C. – Vamos falar sobre Arma de Vingança? Sei que foi o primeiro livro que você escreveu e publicou. Fale um pouco sobre como surgiu a ideia do livro.

D. B. – A ideia do Arma surgiu enquanto ainda estava no colegial, logo ali atrás (risos). Eu ouvi a experiência traumática de uma menina da minha classe com seu ex e na hora eu pensei: o que eu faria se fosse ela. Vingança foi a primeira palavra que me veio na cabeça. Assim surgiu a primeira ideia de como Ana seria.

M. C. – Quanto tempo você levou entre o processo de escrever o livro e publicá-lo?

D. B. – O livro foi escrito em seis meses, mas até ele ser publicado como vocês o conhecem hoje levou mais de dez anos. Era um projeto meu, para mostrar aos amigos e família, digitado em cópia única, entende? Algo que tinha medo de mostrar ao mundo, pois não julgava bom o suficiente. Até que os amigos me incentivaram a publicá-lo, a seguir o meu sonho. Neste período eu já era blogueiro (fui responsável pelo Literatura de Cabeça por quatro anos) e conhecia mais os meandros do mercado. Assim sentei, dei aquela revisada, e deixei correr o mundo. Fiz uma tiragem pequena sob demanda e utilizei a plataforma KDP da Amazon para que ele estivesse disponível para mais pessoas. Para minha alegria, ele acabou ficando entre os suspenses mais vendidos três vezes em um ano, ficando na frente de nomes como Harlan Coben. Foi muito gratificante! Logo, eu conheci a Rayanna Pereira, blogueira e que trabalha na Universo dos Livros, que acabou apresentando o Arma para o pessoal de lá. E, para minha felicidade logo veio a proposta de contratação da obra. Ela foi um anjo da guarda literário, que me fez galgar mais esse degrau. E só tenho a agradecer à ela, a equipe da editora e a todos os leitores e blogueiros que me ajudam a alçar voos cada vez maiores.

Danilo Barbosa

M. C. – Falar sobre Arma de Vingança e não falar sobre Ana é quase um pecado. Como foi o processo de criação dessa personagem fantástica?

D. B. – Eu falo que meus personagens não são criados, eles vem pronto e me criam, transformam aquilo que sou entre meus dedos inquietos. Acho que a Ana tem um pouco de todas as heroínas literárias da minha juventude, mulheres determinadas que sabiam suas vontades e, na hora certa, não hesitavam em cumpri-las. Seres extremamente passionais, tanto para o bem quanto para o mal. Acho que minha principal inspiração na criação de Ana foi Tracy Whitney, personagem criada por Sidney Sheldon para o livro Se houver amanhã. Foi o primeiro livro verdadeiramente adulto que eu li. Devia ter uns 13, 14 anos e nunca mais a esqueci.

M. C. – Danilo, estou curiosa… Você fez alguma pesquisa sobre psicopatas para construir os outros personagens do seu livro?

D. B. – Na época que escrevi, não. Pensei naqueles vilões sádicos e sem escrúpulos que havia lido, abri o alçapão escuro da minha mente e pulei de encontro com a minha sombra. Acho que nas horas da escrita, eu e ela entramos de comum acordo. Depois, quando fui publicar o livro, verifiquei sim se tudo aquilo que escrevi era verossímil, sob o aspecto psicológico. E vi que era, para o meu alívio.

M. C. – Me fale sobre o personagem Ricardo… Esse me deu medo, confesso.

D. B. – Na hora de escrever um vilão, sempre pensei que não precisava escrever um monstro para causar medo. Não precisava de um aspecto feio, que causasse pavor, mas algo que envolvesse, permitisse que você baixasse a guarda para destruir seu coração. O Ricardo foi assim, a minha tentativa de criar um monstro real. Tanto que a primeira vez que escrevi a parte dele, sabia que ele havia me sequestrado e não teria mais controle sobre seus atos. Tem cenas que escrevi dele que até hoje não esqueço a sensação: os ombros doloridos, o tremor, o fitar das páginas e o pensamento de que havia criado um monstro.

Amo odiar o Ricardo, como muitos leitores. E sei que nas próximas histórias meus vilões vão fazer vocês pensarem muito…

M. C. – Falando sobre vingança… Você é uma pessoa vingativa? Já teve vontade alguma vez na vida de ser uma “Arma de Vingança” como a Ana?

D. B. – Não sou muito, não. Queria ser mais (risos). Na realidade, eu brigo, faço aquele drama, fico bicudo, mas quando pego raiva mesmo, simplesmente a deleto. Faz menos mal para a gente.

M. C. – Você tem algum “ritual” na hora de escrever seus livros ou escreve de qualquer maneira e em qualquer horário?

D. B. – Não sou muito de rituais. Nada de lugar certo e horário, faço quando a inspiração manda. Tudo que é visto com obrigação, deixa de ser prazer, então não tento me regrar. Escrever me dá sentido, e isso torna o gesto tão apaixonante. Uns dias preciso de silêncio, outros de música. Preciso ficar só para me concentrar ou faço um trecho que acho tão legal que tenho de ligar para a minha copidesque e comentar com ela. Rotina não há na minha escrita.

Danilo Barbosa 4

M. C. – Sei que você tem outro livro prontinho… Tem data de lançamento? Pode falar sobre ele ou ainda é surpresa?

D. B. – Tenho sim. Está pronto, mas ainda não tenho a data de lançamento fechada com a editora. Ele é bem diferente do Arma de Vingança, mas não deixa de ser intenso.

É a história de um jovem escritor de romances, cético e sem inspiração por perder a mulher que achava ser para sempre. Em seu trajeto de sanar seu coração, ele encontrará uma misteriosa senhora, que lhe promete uma história que irá inspirá-lo. Algo que o levará – e aos leitores – para as vielas da Lapa carioca, da década de 40, onde um conto de fadas – ou vários – foi reescrito para criar uma história de amor. Confesso que sou apaixonado por esta história e pela sua protagonista. Principalmente pelo fato da inversão de papéis. Nesse caso, o homem é o romântico, o que acredita no felizes para sempre. Ela acredita no poder do desejo, da conquista, da manipulação dos homens. Existem diálogos que eu acho memoráveis – mas como é meu filho, isso não conta.

M. C. – Você tem um gênero preferido na hora de criar seus livros?

D. B. – Não. Eu foco no meu público. Mesmo sendo o romance romântico, ou o suspense, penso que escrevo sobre mulheres, para um público composto na sua maioria por mulheres. Portanto, ao criar uma história ou descrever uma cena, penso no que as agradaria. Fico imaginando a reação de quem encontra as letras pela primeira vez, algo que agradaria a mim também como parte do público. E quando a última palavra é digitada, fico satisfeito com o resultado.

M. C. – Percebi que suas personagens femininas tem a personalidade forte (da forma como gosto), marcante e que não precisam de um homem para protegê-las. Isso é uma marca em todas as suas personagens femininas? Fale um pouco sobre isso.

D. B. – Isso é uma marca em todas as minhas personagens, sem dúvida. Não sou do tipo que acredita que as mulheres precisam de alguém que as salve e dite as regras de como devem ser as suas vidas. Não gosto de livros em que as protagonistas abdicam de suas vidas em função de seus amados. Acho que esse conceito está meio defasado, pois independente da época, as mulheres são donas de suas vontades e seus desejos, não precisam de alguém para supri-las, e sim para acompanha-las na jornada que a vida proporciona. Somos todos seres autossuficientes, e aprendemos com o outro para criarmos a nossa própria forma de vermos o mundo, não sermos absorvidos. Por mim, a princesa nunca vai ficar na torre esperando o príncipe: ela desce dá torre, chuta a bunda do dragão e vai ser feliz, sozinha ou acompanhada, como preferir.

M. C. – O que podemos esperar do Danilo Barbosa no futuro?

D. B. – Estou escrevendo o terceiro livro e as ideias para os dois próximos estão mais do que prontas na minha cabeça. Tenho outros dois projetos iniciados, mas ainda não é hora de deixá-los correrem. Isso sem contar as minhas crônicas que coloco no site. Muitos leitores me pediram para fazer um livro com elas – é uma ideia atraente que pretendo colocar na lista… Então podem esperar muitas coisas do Danilo nos anos que virão.

Danilo Barbosa 3

M. C. – Sempre gosto de fazer essa pergunta para autores nacionais. Sentiu dificuldade de aceitação por parte das editoras na hora de apresentar seu livro?

D. B. – Sim, já que nem todas as editoras aceitam originais nacionais. Eu tive a sorte de contar com uma casa editorial acessível e muito boa, com o apoio de amigos e os números da KDP para me darem embasamento, e o carinho dos meus leitores não tem preço… Mas e quando você não tem isso? Existem escritores talentosos que não são publicados simplesmente por não terem a oportunidade de apresentar o seu trabalho.

Mas quem fala que a culpa é das editoras, acho que há muitos lados nesta história. É nossa a culpa também, como leitores, que desde a hora que vamos na livraria preferimos o livro internacional, que é best-seller e tem direitos vendidos para o cinema. Para a editora é mais fácil trabalhar o livro que vem de fora – eles estão cheios de argumentos de venda. E no livro nacional, nós, leitores brasileiros, que temos de fazer isso. Penso que, se começarmos a dar o valor que damos aos livros nacionais aos que vem de fora, isso se refletirá nas editoras e os escritores terão mais acessibilidade na hora de apresentarem esses trabalhos. Principalmente agora, em tempos de crise, em que os gastos na produção de um livro nacional são menores, já que não possuem alguns custos como o de tradução.

M. C. – Fale um pouco de sua experiência com a publicação do seu livro. Período de envio de originais até a publicação.

D. B. – Foi em torno de seis meses até fecharmos o contrato e quase dez meses para a publicação. A editora tem uma grade de lançamentos e ela deve ser respeitada. O escritor deve ter paciência e preparar-se para ajudar a trabalhar o seu livro assim que sai a data de pré-venda. Muita gente acha que após a venda para uma editora grande, pode ficar tranquilo. Nada, o seu trabalho está apenas começando.

M.C. – Alguma dica para um autor que pretende publicar seu primeiro livro?

D. B. – Muita calma, paciência e noção de que o seu espaço se conquista aos poucos. Sua principal responsabilidade é com os leitores. Antes de publicar a sua história, leia, releia, leia mais uma vez, reveja possíveis furos e erros, seja os olhos do leitor e imagine quais emoções deseja compartilhar com eles. É uma ligação linda, que você deseja ter pela vida toda. Portanto, cultive-a. Sua história não precisa ser a melhor do mundo, ou a mais original (porque isso é cada vez mais difícil em um mundo em que as ideias correm rápidas pela internet), mas o modo que você a conta é o seu grande diferencial. Nunca deixe de pensar nisso.

M. C. – Danilo, muito obrigada por bater esse papo comigo. Sou sua fã e quero muito ler suas outras obras. Deixe um recadinho para os leitores do Minha Contracapa.

D. B. – Eu que agradeço, Thaisa, pelo carinho. Obrigado também a todos os leitores do Minha Contracapa e espero que possa falar com todos mais vezes. Peço que leiam, leiam sempre, leiam mais, ajude a compartilhar as histórias nacionais e os seus escritores por onde puderem. Sejam propagadores de nossa cultura. Um beijo à todos!

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