Entrevista com o autor: Rafael Lovato

E quem disse que o Brasil não tem escritores de talento? Sim, na nossa atualidade temos muitos escritores talentosos que ainda não foram “descobertos” e é por isso que gosto de sempre apresentar a vocês autores nacionais. Rafael Lovato é um escritor muito talentoso que já publicou vários livros e sua mais recente obra publicada é o primeiro livro de uma série: Magimakía – A busca por Merlin (Resenha Aqui).

Um escritor talentoso e muito simpático que vocês poderão conhecer um pouco mais nesse bate-papo que tive com ele.

Entrevista com o Autor

Minha Contracapa – Nos fale um pouco sobre Rafael Lovato.

Rafael Lovato – Tenho 40 anos, sem filhos, tenho 5 gatos, e sou solitário e inquieto. O que mais prezo nesta vida é silêncio e que me deixem quieto no meu canto. Talvez por isso que meu casamento de mais de 20 anos continue firme e forte: minha esposa sempre respeitou meu espaço, e eu o dela, claro.

M. C. – Você é formado em direito, Procurador do Banco Central, colunista de dois jornais e escritor. Como você concilia seu tempo para escrever seus livros?

R. L. – Nunca sofri de “bloqueio de escritores”. Na verdade, possuo diversas histórias em minha cabeça, e que eu poderia sentar e escrevê-las. Assim, mesmo com meus dias bastante atarefados, quando sento para escrever sou rápido e prolífico. Acho que isso tem a ver com o processo criativo e de escrita que uso, que falaremos logo a seguir.

M. C. – Quando surgiu o desejo de começar a escrever?

R. L. – Quando eu estava com 8 ou 9 anos, minha mãe me deu de presente o livro de cabeceira dela, “O Profeta”, de Khalil Gibran. Lembro que ela me disse “Esse livro não é como os outros. Você tem de ler devagar e pensar sobre o que leu”. Foi o que fiz. E lembro que fiquei impressionado com o fato de alguém conseguir dizer tanto em tão poucas palavras. Então, despertou meu interesse em escrever, e acabei escrevendo vários contos. Completei meu primeiro livro com 16 anos, “Vencer é para todos”, que foi o embrião de Joshua, a coluna dos jornais e série de livros lançada pela Zap Book.

M. C. – Me fale um pouco como funciona para você seu processo criativo. Como você trabalha as histórias para seus livros?

R. L. – Eu escrevo meus livros completamente em minha cabeça antes de pô-los no papel. Eu trabalho as histórias e a lógica da história recriando as cenas da história em minha cabeça, procurando falhas, até me convencer de que está bom. Na verdade, eu escrevo vários livros simultaneamente (em minha cabeça), e acabo colocando no papel os que estão amadurecidos. Por isso escrevo sobre vários temas, que falaremos mais a seguir.

M. C. – Anverso e Reverso de um crime foi seu primeiro livro publicado? Me conte um pouco sobre ele e como nasceu a ideia de escrever um romance policial.

R. L. – Sempre gostei muito da Bíblia, pois as histórias nela contadas são fantásticas. O Apocalipse sempre prendeu minha atenção, e sempre imaginava diversas situações ao lê-lo. Assim, nasceu a história do assassino fanático, e que acabou virando o livro policial.

M. C. – Além dos seus livros, você também escreve contos. Inclusive 2 de seus contos foram premiados: Nulla in mundo pax sincera e A moeda humana do Banco Central. Como foi essa experiência para você?

R. L. – Gosto de escrever contos, mas eles tratam de questões pontuais, por isso prefiro os romances, pois posso trabalhar mais a fundo os temas propostos. Esses dois contos em particular foram muito importantes para mim, pois o “Nulla in mundo pax sincera” acabou sendo comprado pela OXFORD University Press, que utiliza o conto como modelo de escrita em seu material didático, o que abriu muitas portas no exterior (inclusive Portugal). Já “A moeda humana do Banco Central” foi uma brincadeira que fiz com minha esposa. Expliquei para ela algumas técnicas internacionais de escrita, e escrevi o conto em 15 minutos utilizando essas técnicas (para mostrar para ela), e acabou ficando bem legal a ponto de ser premiado.

EUCP

M. C. – Escrever para você é um hobby ou você considera como sua principal profissão?

R. L. – Escrever era um hobby até 2010, quando comecei a estudar técnicas internacionais de escrita com um coach da Inglaterra para adequar o romance “Clarke” (lançado em 2012 pela Novo Século). Desde então, continuei estudando e estudo diariamente até hoje, e em virtude da complexidade da escrita dentro destas normas (que acabou me rendendo publicações internacionais em Portugal, nos EUA e na Inglaterra pela OXFORD) passou a ser uma profissão séria e extremamente trabalhosa.

M. C. – Você possui 6 livros publicados. São 5 gêneros diferentes em seus romances. Você tem alguma preferência por um determinado gênero literário?

R. L. – Como comentei acima, como escrevo diversas histórias simultaneamente em minha cabeça, coloco no papel as que estão “prontas”. Na verdade, não possuo preferência por gênero, e sim gosto de boas histórias com mensagens morais e filosóficas que acredito importantes. Mesmo a Magimakía, uma série de fantasia, possui forte caráter filosófico sobre percepções do bem e do mal e das interações interpessoais, como você mesma percebeu.  Por isso sou eclético ao escrever.

M. C. – Você teve alguma dificuldade para escrever algum dos seus livros?

R. L. – Como comentei, não possuo qualquer bloqueio para a escrita. Sempre brinco com minha esposa que se existissem 10 Rafaéis, eu teria como ocupar todos. Ela sempre dá graças a Deus por existir só um.

M. C. – Magimakía – a busca por Merlin é sua publicação mais recente. É uma fantasia infantojuvenil e pelo que percebi, um estilo completamente diferente de seus outros livros. Por que você resolveu escrever para esse público?

R. L. – Eu sempre joguei e jogo MMORPG, e adoro fantasia. Já havia anos que eu pensava em escrever algo nesta linha, e comecei a desenvolver a Magimakía. Quanto ao público infanto-juvenil, é o publico leitor desta temática, por isso adequei a história a ele. No entanto, “O legado de Morgana” já será um livro “juvenil”, não mais “infantojuvenil”.

M. C. – De onde veio a inspiração para escrever Magimakía?

R. L. – Eu diria que veio principalmente de minha frustração com histórias de fantasia que li e vi em filmes. Por exemplo, fiquei completamente frustrado com o fato de Sauron (adoro Tolkien) nunca vir lutar e mostrar o poder dele. E é assim na maioria das séries: os seres poderosos nunca mostram de verdade o poder que possuem. Nos raros casos em que mostram, eu achei fabuloso (como a Fênix em X-Men). Assim, nasceu meu interesse em escrever uma história com seres realmente poderosos e mostrando em detalhe o poder que possuem.

M. C. – Como foi a recepção do público em relação a esse livro? Foi da forma que você queria?

R. L. – Foi muito melhor do que eu esperava. Todos estão ansiosos pela continuação da história, e as pessoas mais próximas a mim sempre trazem novas ideias e anseios para a continuação. É muito legal.

M. C. – Magimakía foi publicado também em Portugal. Como foi essa experiência para você? Esse é seu primeiro livro publicado em outro país?

R. L. – Sim, foi minha primeira publicação internacional. Essa publicação foi um divisor de águas em minha carreira. Se observarmos, poucos autores nacionais são publicados em Portugal. Isso ocorre pois Portugal é mercado Europeu, e esse mercado é extremamente exigente acerca da qualidade da escrita. Tanto que no momento em que Portugal, através da Editora Chiado, fechou o contrato de publicação comigo, a Ravenswood Publishing, dos EUA, se interessou na Magimakía e acabou adquirindo a versão em inglês (escrita por mim) para lançar em 2016.

M. C. – A receptividade das editoras aqui no Brasil com autores brasileiros nem sempre é acolhedora. Você teve dificuldade para encontrar uma editora que quisesse publicar seus livros? Como foi esse processo para você?

R. L. – O mercado editorial no Brasil é uma piada, para ser sincero. Editoras grandes só publicam autores conhecidos ou pessoas famosas, inclusive com alguns selos nem mesmo publicando autores nacionais (o que é uma vergonha). No início foi muito difícil sim. Agora estou em um estágio que possuo editoras interessadas em meus livros, mais ainda não quebrei a barreira de grandes editoras nacionais se interessarem. Sim, pois elas não estão interessadas em boas histórias nem em qualidade de escrita, estão interessadas exclusivamente em vender, e se o autor não é famoso por qualquer razão que seja, eles sequer leem seu livro. Na verdade, nem recebem seu original. Não querem nem saber.

M. C. – Com toda certeza você é também um leitor. Quantos livros você consegue ler em um mês?

R. L. – Isso depende muito se estou focado em alguma história, pois neste caso evito ler livros sobre o tema (para não contaminar minha escrita) e diminuo o passo de minha leitura. Porém, sempre estou lendo um livro, neste momento estou lendo “Childrood´s end” de Arthur Clarke. Sempre leio o original do livro pois traduções normalmente não são nada fieis ao original.

M. C. – Tem algum livro que marcou a sua vida?

R. L. – Sim, “O Profeta” de Gibran e “The green mile” de Stephen king, em virtude da fabulosa voz (narrador) do livro, que, em virtude da qualidade da história, mostrou-me o quão importante é saber escrever.

M. C. – Já tem uma previsão para o lançamento do segundo livro da série Magimakía?

R. L. – Ainda não. Apesar de a história estar praticamente pronta na minha cabeça, recém comecei a coloca-la no papel. O bom é que sou bem rápido. Eu diria que há a possibilidade de lança-lo ano que vem, após o lançamento de “Charlotte – A imperceptível transparência de uma alma feminina” livro que já terminei e está com editoras, e será lançado ano que vem.

M. C. – Muitos autores tem várias ideias e histórias diferentes mesmo quando estão no processo de escrita de algum livro. Você é assim? Consegue escrever mais de um livro ao mesmo tempo?

R. L. – Conforme citei acima, escrevo vários livros simultaneamente em minha cabeça. Há várias histórias, inclusive, que só eu e minha esposa sabemos (pois conto para ela). Uma delas, segundo minha esposa, é a melhor história de todas e que eu deveria colocar imediatamente no papel, que se chama “Anomalias”. Mas ainda não amadureceu. Teremos de esperar.

M. C. – Rafael, muito obrigada por aceitar bater esse papo comigo. Quero dizer que sou sua fã e estou ansiosa para ler mais livros seus. Deixe uma mensagem para seus fãs e leitores do Minha Contracapa.

R. L. – Nunca confiem em anjos e demônios. O que quero dizer com isso é que cada um deve construir sua própria concepção sobre o mundo, e agir de acordo com sua convicção individual erigida sobre sua metafísica. Não acreditem no que os outros lhes dizem. Vejam e confiram o mundo por si mesmos. Super beijo a todos.

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